TV DIGITAL: O que a Folha diz. O que a Globo diz.

(ou "dizia" já que tudo aqui é de 2006. Achei interessante comparar. Mesmo depois de tudo.)

Na folha:

20060307-tv_digital-o_que_esta_em_jogo

Na época (de 6 de Fevereiro de 2006) :

TV 2

22-5-2009-10.07.381-6-2009-8.03.145-6-2009-8.19.2822-7-2009-5.14.0017-9-2009-2.17.43 22-5-2009-10.07.381-6-2009-8.03.145-6-2009-8.19.2822-7-2009-5.14.0017-9-2009-2.17.50 22-5-2009-10.07.381-6-2009-8.03.145-6-2009-8.19.2822-7-2009-5.14.0017-9-2009-2.17.47

Recortes:

No Folha Online Na Revista Época
Sobre o Sistema Europeu

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O sistema privilegia a programação múltipla, o que é visto como oportunidade para as ONGs (Organizações não Governamentais) e pelas teles, interessadas em novos canais de conteúdo.
Entretanto, a tecnologia não agrada às grandes redes de TV, pois elas teriam, em tese, que dividir o espaço que ocupam hoje no espectro (6 MHz) com outros produtores de conteúdo, e também o mercado publicitário.

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O conversor europeu seria o mais barato para o usuário entre os sistemas estudados pelo governo brasileiro, segundo relatório das pesquisas coordenadas pelo CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações).

O governo ainda avalia os testes de robustez (capacidade de transmissão sem interrupções em longa distância e diante de obstáculos como o espectro congestionado da Grande São Paulo).

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Sobre o Sistema Japonês

ISDB(Integrated Service Digital Broadcasting) é o padrão defendido pelas grandes redes de TV. Elas alegam que essa seria a tecnologia que melhor atenderia aos requisitos de alta definição (mas também com possibilidade de transmissão em definição standard, com qualidade inferior, para permitir a múltipla programação), além da portabilidade e mobilidade em 6 MHz, mesma quantidade do espectro utilizada hoje pelas emissoras.

Entretanto, o relatório do CPqD aponta que o conversor para o padrão ISDB seria o mais caro para o consumidor.

Ao privilegiar a alta definição, o sistema também poderá dificultar a entrada de novos concorrentes (novos canais de TV). Isso porque, para transmitir em alta definição não seria possível dividir a programação, já que esse tipo de transmissão demandaria a utilização de toda a banda de espectro (6 MHz). Em definição standard, esse mesmo espectro poderia ser dividido em até quatro canais, mas as emissoras estimam que o mercado publicitário também seria dividido, o que seria interessante do ponto de vista da produção cultural, mas afetaria a rentabilidade das redes de TV.

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Fonte!

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Nada disso acontecerá, porém, se o governo não tomar rapidamente uma decisão sobre os padrões técnicos - são ao todo quatro — que permitirão a transmissão e codificação dos sinais de áudio e vídeo. Tal decisão é esperada pelo menos desde o ano 2001. O padrão que tem gerado mais disputa é o de transmissão. Três consórcios concorrem pela preferência brasileira: o japonês (ISDB-T), o europeu (DVB) e o americano-coreano (ATSC). Até dias atrás, parecia claro que o governo Lula escolheria o sistema japonês, considerado o melhor para o ambiente brasileiro, segundo um extenso estudo encomendado pelo Ministério das Comunicações a várias universidades. A análise considerou que a tecnologia japonesa oferecerá mais qualidade de imagem e mais opções gratuitas, como a TV pelo celular.
O sistema americano já foi praticamente descartado pelo governo. O japonês tem o apoio do ministro das Comunicações, Hélio Costa, e das grandes redes de TV. “Os japoneses vieram depois dos sistemas americano e europeu e, por isso, têm uma tecnologia mais avançada”, afirma Fernando Bittencourt, diretor de Engenharia da TV Globo pertencente às Organizações Globo, grupo que edita ÉPOCA. ‘É o sistema que melhor assegura ao telespectador de qualquer lugar do país uma qualidade de imagem igual à de quem tem uma TV a cabo. Também abre a possibilidade de você assistir à TV aberta, gratuita, em aparelhos portáteis, inclusive celular.”
Mas os europeus ganharam fôlego, especialmente no Congresso, com o argumento de que a qualidade da imagem tem importância relativa, pois seria notada apenas por quem tem TV grande. "Apopulação brasileira nao tem dinheiro para ficar trocando de televisao toda hora. A maioria da população tem televisores de 14 "

Outro ingrediente relevante para a demora na decisão é a maior abundância de canais propiciada pelo sistema europeu, que não privilegia tanto a qualidade de imagem. É inegavel que a possibilidade de um festivai de concessões abriu a sanha de alguns deputados. “Qualquer que seja a escolha, ela deve ser tomada por critérios técnicos”, diz o deputado Jorge Bittar (PT). É o mínimo que espera o consumidor.

Fonte: Época de 6 de Fevereiro de 2006

O Resultado (Fonte)

Lula escolhe padrão japonês para TV digital

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Após uma dura batalha de bastidores entre os defensores dos padrões japonês, americano (ATSC) e europeu (DVB), o presidente optou pelo primeiro por avaliar que essa proposta trará mais vantagens ao Brasil e às grandes empresas de comunicação do país --entre as quais as Organizações Globo.

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A decisão pelo padrão japonês foi tomada na semana passada por Lula, que orientou seus ministros a negociar com o Japão as contrapartidas para que o anúncio produza ganho político no ano eleitoral.


Além do compromisso de investimentos e da transferência de tecnologia, Lula disse a auxiliares que pesou na decisão o padrão japonês permitir maior tempo de adaptação à era digital dos atuais aparelhos de sinal analógico.
Ou seja, enquanto os americanos e os europeus previam uma fase de transição mais rápida, os japoneses se dispuseram a tornar esse período mais longo num país pobre em que a TV está instalada em mais de 90% dos domicílios.
Uma fase de transição mais longa resultará em menor custo ao consumidor, que terá mais tempo para continuar com seu televisor atual sem precisar comprar um decodificador do sinal digital ou um aparelho novo já com o equipamento.
O presidente também levou em conta o lobby das grandes emissoras de TV do Brasil a favor do padrão japonês. Não seria inteligente do ponto de vista político, avalia Lula, contrariar essas empresas no ano em que disputará a reeleição. Mais: as grandes TVs do Brasil dizem que o padrão japonês permitirá maior controle nacional sobre o conteúdo transmitido. Como o Brasil é um país com uma indústria de entretenimento televisivo de ponta, o governo avalia que é uma decisão estratégica defender os interesses das companhias nacionais.
Parte do PT chegou a fazer pressão a favor do padrão europeu, espécie de segundo colocado nos critérios do governo. Apesar desse lobby e do interesse das operadoras de telefonia no padrão europeu, que permitiria sua entrada na área de conteúdo, o governo não conseguiu dos europeus as contrapartidas oferecidas pelos japoneses. Nas discussões internas, Hélio Costa, ex-repórter da Globo, argumentou que o padrão japonês tinha também maior qualidade técnica e que, do ponto de vista tecnológico, seria superior ao americano e ao europeu.

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e (Fonte!)

Análise: Redes saem vitoriosas com padrão japonês de TV digital

As redes de televisão são as principais (talvez únicas) vitoriosas com a escolha do padrão de modulação de TV digital japonês, que defendem desde 1999, quando fizeram os primeiros testes.
O padrão japonês é melhor para as TVs brasileiras porque é o que trará menos impacto ao seu modelo de negócios. Elas apenas ganharão um novo canal e transmitirão sinal digital nele. Pelo menos por enquanto, não haverá a entrada de novos concorrentes, principalmente as temidas telefônicas.
As redes temiam que a escolha do padrão europeu, por exemplo, trouxesse o modelo de exploração de televisão do continente, em que não há alta definição e empresas de telefonia atuam como distribuidores dos sinais (ou seja, cobram das TVs para distribuí-las).
Segundo as redes, o padrão japonês seria o único que lhes permitiria transmitir um sinal robusto, que "pega" bem em cidades de relevo acidentado, como o Rio, ou com muitos prédios, como São Paulo. Na TV digital, ou o sinal "pega" 100% ou não "pega".
Com a escolha do padrão japonês, as teles perdem -ou deixam de ganhar. Elas reivindicavam parte do espectro de UHF e VHF (usado pela TV) para explorarem serviços de telefonia e de distribuição de audiovisual pago.
Perdem também os defensores da democratização do espectro com a entrada de novos operadores. Para eles, a escolha do padrão japonês significa que o governo sucumbiu ao pragmatismo e quis agradar às grandes emissoras de televisão do país em ano eleitoral.